É possível "estar infartando" e continuar realizando as tarefas do dia a dia ?
Conhecido como ataque cardíaco, o infarto do miocárdio é causado pela obstrução de uma artéria coronariana e a consequente ausência ou redução da circulação sanguínea na região do coração irrigada por aquela artéria. O quadro clínico é característico: dor torácica intensa e prolongada, queimação nas regiões próximas ao coração, suor frio, palidez, náuseas, vômitos e desmaio.
Mas o infarto coronariano é sempre súbito? De acordo com a cardiologista Ana Cláudia Rollemberg, especialista pela SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), a resposta é sim. “Porém, em alguns casos, a pessoa pode manifestar sintomas horas ou até dias antes do infarto. Essa condição pode indicar que já há obstrução de uma artéria coronária.”
Confira a entrevista:
O que acontece com o corpo durante um infarto?
Há uma brusca interrupção da passagem do oxigênio para o miocárdio, o músculo cardíaco. É comum dor torácica intensa e prolongada e queimação no lado esquerdo do coração, com extensão para a mandíbula, braço e parte superior do abdômen. Também pode ocorrer suor, palidez, náuseas, vômitos e desfalecimento, além de sintomas como queimação no estômago. Em casos extremos, a primeira manifestação pode ser uma arritmia grave, seguida de parada cardiocirculatória e morte súbita.
O infarto é sempre súbito?
O infarto coronariano é um quadro agudo, mas algumas pessoas podem apresentar sintomas dias ou horas antes. Nesses casos, possivelmente já existia uma artéria coronária com placas de gordura e obstrução prejudicando a passagem do oxigênio para o miocárdio. Os sintomas no geral não mudam, mas podem melhorar espontaneamente ou com uso de vasodilatador sublingual.
Isso significa que a pessoa já estava infartando há dias?
Não há como uma pessoa estar “infartando há dias”. O que há é uma sequência de sintomas que já demonstra uma condição grave. Clinicamente, trata-se de um quadro chamado angina instável e exige os mesmos cuidados que o infarto.
Que cuidados seriam esses?
A sobrevida no infarto do miocárdio ou da doença coronariana depende da extensão e gravidade da doença, do quão rapidamente é feito o tratamento adequado, além de fatores próprios do indivíduo, como idade e a concomitância com outras doenças. A terapia deve ser individualizada conforme idade, gravidade e sintomas do paciente, e se divide em:
Medidas higieno-dietéticas e uso regular de medicações com efeito amplamente reconhecido;
Intervenções hemodinâmicas, como a colocação de dispositivos intracoronários chamados stents, que mantêm os vasos desobstruídos e evita a constrição dos mesmos;
Cirurgia de revascularização do miocárdio, com implante de pontes, feitas mais comumente com veia safena ou artéria mamária.
O que pode ser feito para evitar que um infarto ocorra de fato?
A condição clínica deve ser prontamente reconhecida. Não se pode subestimar uma dor no peito intensa. Ao identificar os sintomas, é preciso procurar atendimento médico imediato, para aumentar a chance de evitar a instalação do infarto.
Por que a pessoa consegue viver normalmente, mesmo com a presença desses sintomas?
O organismo pode liberar substâncias que promovem a vasodilatação — o calibre dos vasos sanguíneos aumenta –, compensando a redução do fluxo. O indivíduo continua vivendo, mas os sintomas passam são limitantes e servem de alerta para que o paciente procure o atendimento médico.
É verdade que pessoas que praticam atividades físicas criam vasos sanguíneos “extras”?
Não. O nosso organismo já possui uma circulação colateral (rede de vasos que se forma na região de um vaso maior obstruído, na tentativa de manter a irrigação sanguínea), mas normalmente essa rede se mantém fechada. O que acontece é que pessoas que praticam atividades físicas têm mais chance de desenvolver essa circulação colateral, que ajuda em caso de obstrução grave. A circulação colateral no leito coronariano, quando desenvolvida, não chega a evitar o infarto, mas pode diminuir efeitos adversos, protegendo o miocárdio durante as primeiras horas de isquemia. Dessa forma, o infarto e suas complicações podem reduzidas.